A matemática, as ciências sociais e Você Cidadania

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NEWTON DA COSTA e FRANCISCO ANTONIO DORIA, em artigo publicado no caderno mais! da Folha de S. Paulo de 11.02.2001, p. 13, discutem a possibilidade de fazer previsões científicas sobre acontecimentos sociais futuros, em desenvolvimento ao artigo de MARK BUCHANAN publicado no mesmo caderno em 28.1.2001 sobre "O Padrão Invisível", com destaque para o seguinte parágrafo, in verbis:

"(....)

Epidemias acontecem em ciclos. Tal fato foi modelado matematicamente no começo do século 20 por Alfred Lotka, um químico alemão radicado nos EUA, e Vito Volterra, matemático italiano. Foram os resultados nada óbvios do trabalho de Lotka e Volterra que levaram à teoria por trás das campanhas periódicas de vacinação para controle das epidemias (você pensa que se fazem tais campanhas para imunizar cada indivíduo vacinado? Não, porque isso é impossível. O objetivo é a chamada ‘cobertura vacinal’ da população).

(....)"

Pergunta: O que Você Cidadania tem com isso?

Resposta: Aparentemente nada, pois é só tomar a vacina quando o ministro SERRA aparece na televisão falando, v.g., da ‘vaca louca’, etc., e tudo bem, sem precisar fazer contas matemáticas - aparentemente - complicadas para continuar a viver a sua matricial vida, gostosa como ela deve ser, mas tem, e muito!;-)

Assim como epidemias ocorrem em ciclos, Você Cidadania também vive em ciclos, sendo a moda é um bom exemplo. Sim, a moda vai e vem, em ciclos evolutivos e de renovação, como ensina MARILENA CHAUÍ, in verbis:

"Quando o moderno emerge, seu sentido é combativo e polêmico. É uma recusa à tradição, já que esta não serve mais para explicar o tempo presente. Ao contrário do clássico - cujo ponto de vista é sempre a intemporalidade, o eterno - o moderno cria raízes no tempo presente, de modo positivo e afirmativo. E por dizer o novo, e pensar o que nunca foi dito, o moderno faz o que nunca foi feito. Portanto, a modernidade é inseparável do novo." (In: CHIC HOMEM: MANUAL DE MODA E ESTILO, por Glória Kalil, Ed. Sanac, 4ª ed. 1998, p. 23)

De volta para o artigo sobre a matemática e as ciências sociais, é claro que vez ou outra Você Cidadania abre o guarda-roupas e comprova o fenômeno da incompletude de Gödel no âmbito da teoria do caos, ao descobrir que não existe aquela roupa que Você Cidadania procura. É hora de construir a sua própria roupa, in verbis:

"Atrapalhando as previsões Em 1994, ainda, publicamos na revista alemã ‘Philosophia Naturalis’ um artigo sobre a incompletude de Gödel atrapalhando a possibilidde de prevermos o futuro das sociedades com a ajuda de modelos formais, mesmo que muito sofisticados. Tal fenômeno nada tem a ver com as dificuldades causadas pelo caos determinístico de Lorenz. Muito pelo contrário, pois vale para sistemas bem simples.

Querem um exemplo? Foi-nos sugerido pelo economista Marcelo Tsuji: o famoso teorema sobre mercados competitivos de Arrow-Debreu, que Mario Henrique Simonsen considerava um dos pontos culminantes da teoria econômica moderna, mostra que, dadas certas condições razoáveis, todo mercado possui preços de equilíbrio. A oferta e a procura se ajustam nesses preços. Mas no caso geral tais preços de equilíbrio são incomputáveis. Não há meio matemático de calculá-los (como referência, o artigo de ‘Philosophia Naturalis’ ou o artigo publicado pelos autores com Tsuji em 1998 no ‘Journal of Philosophical Logic’). E o fenômeno de Gödel também aparecerá aqui: haverá uma sentença nem demonstrável nem refutável, ‘o mercado M está em equilíbrio’.

Que tal?

Será que temos aqui um limite para a capacidade teórica, no campo das ciências humanas? Achamos que a história, a história concreta, vivida por nós, mostra o contrário: surgem limites - e surgem novos conceitos que nos ajudam a superá-los.

Coisa simples, intuitiva, essa lição da história. Talvez maior do que as matemáticas, quem sabe?"

Em outras palavras, Você Cidadania, ao abrir seu guarda-roupas e descobrir a incompletude de Gödel no âmbito da teoria do caos, parte para as compras com o seu cartão de crédito, CPMF e taxas de juros irreais, buscando aquele equilíbrio estético e movendo o (des)equilíbrio no mercado da moda, assim como todos os outros.

Como só depois das compras Você Cidadania vai fazer as somas para saber quanto gastou (e/ou esperar para ver a soma na fatura) para preencher a incompletude de Gödel no âmbito da teoria do caos do seu guarda-roupas, claro resta demonstrada a paraconsistente questão-afirmação de NEWTON DA COSTA e FRANCISCO ANTONIO DORIA: "Coisa simples, intuitiva, essa lição da história. Talvez maior do que as matemáticas, quem sabe?"

Sinceramente,

 

Carlos Perin Filho

E.T.:

1º) Para um algoritmo em busca da completude do 'guarda-roupas' de Você Cdiadania - que, data maxima venia, está cheio/vazio de "esqueletos" tipo FGTS, PIS, Contos de Réis, Análise da Dívida Externa, MP's, etc. - favor consultar as "sentenças hipotéticas" nas apelações das Ações Populares, em lógica jurídica paraconsistente, e em especial aquele formulado para o BANESPA & GRUPO !;-)

2º) Pelo mais e/ou pelo menos Você Matricial Cidadania está sempre elegante, bela e fresquinha na mídia de massa, faltando apenas algumas petições administrativas e/ou ações populares do Cidadão, que também é Advogado...!;-) Complexo? FREUD explica...

3º) Sobre GÖDEL, aqui vai lexicografia de SIMOM BLACKBURN, sob consultoria de DANILO MARCONDES, in verbis:

"Gödel, Kurt (1906-78) Lógico matemático. Gödel nasceu na Tchecoslováquia, filho de pais da língua alemã, e estudou matemática na Universidade de Viena, onde também entrou em contato com o Círculo de Viena (ver positivismo lógico). Seus revolucionários resultados de 1931 constituíram sua Habilitationsschrift (tese pós-doutoral) em 1932 (ver teoremas de Gödel). Em 1938, Gödel emigrou da Áustria para os Estados Unidos, tendo trabalhado depois no Institute ofr Advanced Studies, em Princeton. As realizações de Gödel são praticamente sinônimas das da lógica matemática de meados do século XX. Entre elas contam-se a demonstração da completude do * cálculo de predicados de primeira ordem, e os resultados revolucionários geralmente referidos como os teoremas de Gödel. Demonstrou também que nenhum sistema pode demonstrar sua própria consistência, pondo efetivamente fim ao * programa de Hilbert, apesar de a demonstração de * Gentzen (segundo a qual se a indução transfinita for permitida, poderemos demonstrar a consistência da aritmética) ter constituído uma espécie de consolação para o próprio Hilbert. A partir de 1943, Gödel dedicou-se sobretudo à filosofia, interessando-se não apenas pela filosofia da matemática, mas também pela filosofia da relatividade generalizada e pela cosmologia. Suas opiniões filosóficas eram diametralmente opostas às do Círculo de Viena, manifestando tendência platônica que incluía elementos religiosos abstratos. Nos anos que se seguiram, Gödel não escapou a algumas excentricidades. * Einstein conta que na tarde de sua entrevista para a obtenção da cidadania americana, Gödel chamou Morgenstern, um especialista em * teoria dos jogos, para lhe explicar que tinha descoberto um problema lógico na Constituição dos Estados Unidos: uma interpretação não-canônica que permitiria que uma ditadura fosse criada sem que isso fosse inconsistente segundo a própria constituição. Após um período de doença, acabou por morrer de fome, com medo de ser envenenado. A extensa obra de Gödel sobre os fundamentos da lógica e da matemática está publicada em Kurt Gödel: Collected Works, vol. I, Publications 1929-1936 (1986), vol II, Publications 1938-1974 (1990) e vol III, Unpublished Essays and Lectures (1995)." (In: DICIONÁRIO OXFORD DE FILOSOFIA, 1997, - www.zahar.com.br -   p. 170)


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