Da importância na crença
em Você Cidadania

 

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Rei Pelé em algumas das múltiplas entrevistas concedidas na mídia, afirmou acreditar nas pessoas por necessidade prática, mesmo correndo o risco de sofrer alguma$ decepçõe$ eventuai$...

Acreditar, ainda que paraconsistentemente, em Você(s) Cidadania(s) é requisito epistemológico relevante na redação de petições administrativas e/ou ações populares em substituição processual coletiva de Você Cidadania "x", "y" ... "n" ou "z", principalmente quando "x" está conflitante com "y", que está conflitante com "n", que quer ganhar de "z" etc... Naquele hipercontexto segue o histórico discurso do presidente da OAB, ROBERTO BUSATO em 27.7.2006, por ocasião da reunião do Colégio de Presidentes da OAB na Sociedade de Estudos Múltiplos, Ecológica e de Artes (Semear, Aracaju-CE), conforme noticiado pelo site - www.oab.org.br - sob o título "Busato: Brasil precisa voltar a acreditar em si mesmo", in verbis:

"Senhoras e senhores

É com grande prazer que compareço a mais esta reunião do Colégio de Presidentes da OAB. É sempre uma oportunidade importante de afinarmos nossa percepção em relação a nossas questões internas e, sobretudo, em relação à conjuntura institucional de nosso país.

Como sabemos, nossos compromissos não são apenas corporativos – embora também o sejam, o que é legítimo e necessário. Mas há sobre nós, como decorrência do que nos determina o Estatuto da Advocacia, a responsabilidade de acompanhar, avaliar e discernir a respeito da vida político-institucional brasileira, com o devido cuidado para evitar contágio partidário ou ideológico.

Quero inicialmente agradecer a esmerada hospitalidade com que nos acolhe mais uma vez o presidente desta seccional de Sergipe, o meu amigo Henri Clay Santos Andrade. A ele e a sua diretoria, os nossos agradecimentos e os parabéns pela eficiência com que organizaram este evento.

Quero aproveitar o ensejo desta reunião para, a exemplo do que já fiz por ocasião da inauguração da nova sede da seccional de Curitiba, esboçar uma primeira prestação de contas de minha gestão, que se aproxima de seu semestre derradeiro.

Penso que, ao longo do meu mandato, conciliamos essas duas frentes de combate da Ordem: a defesa dos interesses da advocacia e a luta em defesa do aprimoramento do Estado democrático de Direito.

Aproximam-se as eleições – as da Ordem e as do país – e nossa instituição, mais uma vez, está sob as vistas da sociedade. Temos, afinal, compromisso público de nos integrarmos às entidades da sociedade civil empenhadas em fiscalizar a lisura nas eleições de outubro.

E como não somos entidade que apenas fala, mas também pratica o que fala, é vital para nossa credibilidade que, em nossas eleições internas, possamos dar o exemplo de integridade que cobramos dos partidos políticos.

Ética – agora e sempre - é a palavra-chave, que deve pautar a conduta dos candidatos. Não tenho dúvidas de que os colegas presidentes compartilham desse ponto de vista.

E aqui, conforme disse no início desta minha explanação, passo a esta primeira prestação de contas de meu mandato – mandato que procurei compartilhar com os senhores, nos momentos difíceis e nas celebrações vitoriosas.

Cito, a propósito – e como ponto de partida desta avaliação retrospectiva - fato recente e auspicioso, para a OAB e para a advocacia.

Refiro-me à recente vitória que obtivemos no Supremo Tribunal Federal, no dia 8 de junho passado, em relação a uma Adin da Procuradoria Geral da República, que pretendia nos vincular ao Estado.

Por expressiva maioria de votos - oito a dois -, aquela Adin foi rejeitada.

Com aquele resultado – que considero a maior vitória de minha gestão, e uma das maiores vitórias de toda a história de nossa entidade –, a OAB livrou-se para sempre do risco absurdo de ser estatizada.

Afirmamos e reafirmamos, de uma vez por todas, nossa natureza jurídica de entidade livre, democrática e desatrelada do tacão do Estado.

A OAB é pública – é a voz da sociedade civil brasileira -, mas definitivamente não é, nem será jamais, estatal.

E assim, somente assim, estará credenciada a manter-se tribuna livre da cidadania. O Supremo Tribunal Federal, com sua histórica decisão, livrou a Ordem da mordaça do Poder Público.

O relator, ministro Eros Grau, entendeu – e nisso foi de extrema felicidade - que, conquanto a OAB seja entidade que detém múnus público e seja pessoa jurídica de direito público, não é entidade autárquica, nem se vincula à administração pública. Não pode, portanto, sujeitar-se à exigência do concurso público para contratação de pessoal.

O mais importante naquele resultado não era, no entanto, o objeto explícito da Adin – a contratação de pessoal por meio de concurso -, mas o que nele estava implícito: a tentativa de profanação de nossa natureza jurídica.

O que estava em pauta era a estatização de nossa entidade, algo que nem a dita dura militar, em seus piores momentos, logrou cogitar.

Tal mudança, se efetivada, simplesmente liquidaria a essência libertária da Ordem. Foi, portanto, e acima de tudo, uma vitória da liberdade, do Estado democrático de Direito – da cidadania.

Com tal vitória, nos sentimos revigorados e fortalecidos para continuar a enfrentar os permanentes embates e desafios que a defesa da democracia e do bem comum impõe.

Quis o destino que a esta minha gestão correspondesse um dos períodos mais ricos, dramáticos e atribulados de nossa história republicana. Um período que ainda não se encerrou.

Às vésperas de mais uma sucessão presidencial, vive o Brasil momentos de intensa tensão social, que muitos não hesitam em rotular de estado de guerra civil não declarada.

Os ataques do crime organizado a alvos civis e policiais na cidade de São Paulo – ataques comandados diretamente de dentro das penitenciárias - configuram um espantoso quadro de anomia e de anomalia social e política sem precedentes.

Quadro que atesta a falência do poder civil e de suas instituições na principal cidade brasileira - a maior da América Latina e uma das cinco maiores de todo o planeta.

Entre o assim chamado "maio sangrento" – quando o PCC iniciou suas ações - e os ataques deste mês de julho, contam-se as mortes às centenas, incluindo dezenas de vítimas absolutamente inocentes. E o que é mais grave: não há sinais, por parte das autoridades constituídas, de superação ou mesmo equacionamento do problema. Já o tom dos criminosos é crescentemente desafiador.

O simples ato de andar nas ruas, utilizar transportes coletivos ou de morar nos bairros periféricos constitui, em alguns momentos, risco iminente de vida.

O exercício do direito constitucional de ir e vir – o mais elementar dos direitos humanos - tornou-se em nossa principal cidade simplesmente temerário.

Diante de tal situação, as autoridades estaduais e federais o que fazem? Batem cabeça, discutem em público e não hesitam mesmo em explorar eleitoreiramente as recíprocas responsabilidades e fragilidades no episódio.

Isso é imoral, senhores!

De um lado, o governo federal acusa os governantes de São Paulo de negligentes, enquanto estes insinuam que os ataques criminosos estariam sendo incitados pelo partido do governo.

Em meio ao bate-boca estéril e despropositado, em que ninguém tem razão (pois o que nele falta é exatamente razão), os bandidos continuam a ganhar terreno e a infundir terror.

Colocados na perspectiva do cenário político destes últimos três anos, pontuados por escândalos impunes, cometidos por agentes públicos de alta graduação, esses ataques do crime organizado inserem-se num painel institucional dos mais preocupantes.

Indicam uma conjuntura geral de delinqüência no país, que transborda dos gabinetes e dos palácios para as ruas, deixando o cidadão de bem, aquele que trabalha duro, é mal-remunerado e sustenta a máquina pública com seus suados impostos – a imensa maioria de nossa população -, em permanente estado de sobressalto e perplexidade.

Não nos iludamos: o brasileiro anda envergonhado do Brasil. E com toda a razão.

Não é este o país que nos ensinaram nos bancos escolares a amar e admirar – o Brasil dos heróis da Inconfidência, dos patriarcas da Independência, dos republicanos idealistas; o Brasil de Tiradentes e José Bonifácio; de Ruy Barbosa e Joaquim Nabuco; de Pontes de Miranda, Sobral Pinto e Evandro Lins e Silva; de Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa; de Tom Jobim e Villa-Lobos; o Brasil de tantos heróis, artistas e figuras admiráveis, dramaticamente posto em segundo plano por um Brasil feio e triste, marcado por figuras sinistras e desavergonhadas, com seus mensalões, sanguessugas, espertezas e manobras rasteiras, traindo os nobres ideais de uma gente pacífica e alegre, mescla de tantas culturas e etnias.

Este tem sido o ambiente conjuntural com que tenho lidado desde minha posse na presidência do Conselho Federal da OAB. Um ambiente institucional de espantos e decepções – que, no entanto, não inibe nossa luta para revertê-lo.

Muito ao contrário: se esta gestão merece algum rótulo, algum emblema, este será o da resistência e da esperança.

Resistência à degradação das instituições públicas e ao ceticismo daí decorrente. Esperança na capacidade criativa do povo brasileiro de superar adversidades.

Cremos, apesar de todos os pesares, no dístico imortalizado pelo cronista Antonio Maria:

- Brasileiro, Profissão Esperança.

Nosso desafio – e os que presidem a OAB são como atletas, que recebem e transmitem a tocha olímpica da esperança, dando continuidade a uma missão permanente -, nossa missão, repito, é lutar pela regeneração e fortalecimento das instituições republicanas.

Nosso Estatuto, como já disse, nos compromete com a defesa da Constituição e do Estado democrático de Direito, com a justiça social e as instituições jurídicas.

Dessa luta, em minha gestão, não arredei – e não arredarei - um passo. E é uma luta que, muitas vezes, nos obriga a cortar na própria carne.

A luta contra o crime organizado – na administração pública, nas ruas e nas penitenciárias – expôs a figura sinistra e paradoxal do advogado criminoso. Mas eu tenho dito por onde passo e aqui o repito: não há advogado criminoso.

Há, isto sim, criminoso travestido em advogado, que precisa ser banido de nossa profissão, tal como o criminoso que se traveste de médico, jornalista, político ou seja lá qual seja o ofício que venha a exercer.

Criminoso é criminoso, não importa o diploma acadêmico que ostente. Quanto mais culto e preparado, mais hedionda será sua falta, pois o conhecimento aprofunda o compromisso com a ética e o bem comum.

A Ordem tem sido, ao longo de sua história, implacável com as faltas éticas que chegam a suas instâncias de julgamento.

Não podemos, como é óbvio, deixar de observar o devido processo legal, com amplo direito de defesa – fundamento da justiça, que temos o dever profissional e moral de preservar -, mas precisamos encontrar meios de dar respostas mais ágeis à sociedade.

Somos, no entanto, escravos da lei – e não temos o poder de mudá-la, senão de cumpri-la e de zelar pelo seu cumprimento. Os instrumentos que o Estatuto da Advocacia nos oferece têm sido utilizados, com todo o rigor e implacabilidade. Basta conferir os números de nossos tribunais de ética.

Mas o Estatuto é lei federal – e não norma administrativa interna -, e não temos o poder de mudá-la. Cabe ao Congresso Nacional, à luz dos acontecimentos em curso, rever prazos e procedimentos relativos ao processo de responsabilização administrativa de advogados que profanam e desonram a profissão, desconhecendo as fronteiras entre a advocacia criminalista e o crime propriamente dito.

Pessoalmente, acho precário o mecanismo de suspensão por 90 dias, obrigando a que, nesse prazo, haja o julgamento.

Havendo má fé por parte do litigante – e, em se tratando de profissional delinqüente, é inevitável que haja -, o processo será estendido para bem além daquele prazo, favorecendo a impunidade.

É um pensamento meu, mas estamos abertos a sugestões que propiciem maior agilidade na exclusão de maus elementos que denigrem a advocacia.

Não podemos, no entanto, abrir mão dos princípios básicos que já mencionei, da ampla defesa e do devido processo legal.

Não podemos permitir que se instale aqui, a qualquer pretexto, o ambiente justiceiro que vimos se instalar em alguns países em nome do combate ao terrorismo.

Onde os fundamentos básicos e universais da Justiça – a lei e o devido processo legal – são desprezados, não há saída: impõe-se a barbárie.

Outro fator corrosivo é a impunidade, que, em nosso país, tornou-se, mais que uma prática, uma cultura. A advocacia – e, dentro dela, a OAB – tem compromisso permanente com sua eliminação.

Temos, sobretudo neste momento de tantos sobressaltos e sofrimentos para o povo brasileiro, que dar o exemplo. Não podemos e não vamos compactuar com a impunidade.

Este é o princípio e o fundamento da Ordem dos Advogados do Brasil: não há advocacia sem ética, sem decência, sem compromisso com o bem comum. O que estiver fora da ética, da lei e da decência não é advocacia: é desvio de conduta – e, como tal, deve ser e será tratado.

A Ordem tem sido, ao longo de sua história de mais de sete décadas e meia, crítica do poder constituído. Tem exercido vigilância severa sobre os governantes, o que a credenciou a exercer o honroso papel de sentinela da sociedade.

Há, porém, a contrapartida: precisamos estar permanentemente à altura desse papel, pois, como diz aquele princípio clássico do Cristianismo, seremos (e estamos sendo) medidos pelo mesmo metro com que medimos.

Tenho posto esse tema – e as sugestões práticas em torno dele - à reflexão não apenas de nossa classe profissional, mas de toda a sociedade civil brasileira, de cujos interesses temos sido, e continuaremos a ser, defensores e procuradores.

E volto a recapitular o período de minha gestão. Assumi a presidência do Conselho Federal em 1º de fevereiro de 2004, recebendo o cargo das mãos do ilustre colega Rubens Approbato Machado.

No dia 13 daquele mesmo mês, estoura o escândalo Waldomiro Diniz, o subchefe da Casa Civil da Presidência da República, flagrado em vídeo pedindo propina a um bicheiro.

Não era um fato secundário.

Tratava-se de um alto funcionário da República, com gabinete na ante-sala presidencial, braço direito do principal ministro do governo, chamado pelo presidente Lula de "capitão do time governamental". O funcionário foi demitido, mas as investigações em torno de seu delito foram desestimuladas pelo governo.

O caso foi tratado como um fato isolado, embora as circunstâncias mostrassem claramente que não o era. Havia sinais, que posteriormente se confirmariam, de que se tratava da ponta de um fio de um imenso novelo de deliqüências envolvendo e comprometendo agentes públicos.

O governo conseguiu no primeiro momento barrar a instalação de uma CPI no Senado, obrigando a oposição a recorrer ao Judiciário.

Um ano e quatro meses depois, um parlamentar da base governista, o deputado Roberto Jefferson, faria uma série de denúncias que revelariam não um mar, mas um oceano de lama – algo de que já se suspeitava desde o caso Waldomiro Diniz: a existência, conforme mencionaria depois o procurador-geral da República, dr. Antonio Fernandez de Souza, de uma organização criminosa na máquina estatal, com o objetivo de perpetuar-se no poder.

Desde então, o país não mais parou de conviver com escândalos e revelações desabonadoras, que aprofundaram o desgaste de nossas instituições políticas. O mais incrível é que nenhum – nenhum! – dos acusados (alguns, inclusive, réus confessos) foi até agora punido.

Contam-se nos dedos de uma mão – e ainda sobram dedos – o número dos cassados pela instituição parlamentar.

Os jornais mostram que diversos deles duplicaram, quintuplicaram seu patrimônio pessoal no exercício da função pública e não têm como justificar esse enriquecimento.

Ainda que expostos à execração popular, muitos irão se recandidatar e, graças à desinformação e despolitização de parte substantiva do eleitorado – vítimas da chaga moral da exclusão social –, serão reeleitos.

Uma tragédia dentro da tragédia. Um escândalo dentro do escândalo.

Em tal ambiente, a Ordem dos Advogados do Brasil, mais que nunca, viu seu papel de tribuna e referência da sociedade civil organizada ser requisitado. Dramaticamente requisitado.

Isso nos levou a inúmeras manifestações em defesa da ética na vida pública. Percorremos todo o país, ouvindo o clamor e constatando a perplexidade do povo, cuja capacidade de se espantar e se indignar parece ter chegado ao limite.

Poucos meses antes das denúncias de Roberto Jefferson, em 15 de novembro de 2004, já preocupados com o desgaste das instituições do Estado – e sem sequer suspeitar que aquele desgaste se aprofundaria imensamente mais -, lançamos no Rio de Janeiro campanha que permanece atualíssima. Refiro-me à Campanha Nacional em Defesa da República e da Democracia.

Dizíamos, na ocasião – e o reiteramos diversas vezes -, que urge reproclamar a República, dar-lhe transparência e efetivo conteúdo popular.

Por isso, o primeiro ato daquela Campanha consistiu no envio ao Congresso Nacional de projeto de lei regulando a aplicação de instrumentos da democracia direta, previstos no artigo 14 da Constituição, do plebiscito, do referendo e da iniciativa popular legislativa.

Se o mau papel de alguns agentes públicos desonrou a missão da representação política – nobilíssima missão -, urge fortalecer os mecanismos constitucionais de participação popular nas decisões do Estado.

Esses princípios, que defendemos ainda antes dos escândalos, tornaram-se ainda mais clamorosos desde então.

Ao sermos provocados a examinar a hipótese de abertura de processo de impeachment contra o presidente da República, em face dos escândalos que envolveram o seu governo, exercitamos na plenitude prerrogativa da cidadania.

O impeachment foi recusado pelo Conselho Federal, mas não por despropósito da iniciativa – de autoria da eminente conselheira Elenice Carille, de Mato Grosso -, mas, sim, conforme deixou claro a maioria dos conselheiros, pela inoportunidade de sua apresentação, às vésperas da campanha eleitoral.

O Conselho, no entanto, encaminhou à Procuradoria-Geral da República notícia-crime contra o Presidente da República, pedindo que fosse pessoalmente investigado, nos termos do relatório do conselheiro Sérgio Ferraz.

Diante da conduta vexatória de tantos agentes públicos, acrescida de descarada impunidade, não é de estranhar que o contágio moral chegasse às ruas e aos próprios presídios.

O resultado aí está e nos desafia, neste fim de mandato: precisamos manter a credibilidade da população em nossas instituições republicanas.

O Brasil vive uma espécie de Armagedon, em que o bem e o mal se digladiam, nas ruas e nas instituições. Não há complacência possível na luta contra o crime. Ele deve – precisa – ser banido de todos os ambientes em que se infiltrou: nas ruas, nos palácios e gabinetes.

O que assistimos nos atos de vandalismo do MLST, que invadiu e depredou a Câmara dos Deputados, ou nas ações criminosas do PCC não se iludam: são metástases de um tumor cujo epicentro está não nas ruas, mas nos palácios e gabinetes refrigerados.

Precisamos promover com toda a urgência a reforma política – mãe de todas as reformas – e promover uma concertação entre os homens de bem deste país, que felizmente existem e podem ser encontrados em todos os partidos e instituições.

Essa, a meu ver, a missão do meu sucessor na Ordem: acompanhar e participar da reconstrução moral, política e institucional deste país, premissa básica para a realização do sonho de todos nós – a superação das desigualdades, a construção de um Brasil mais justo e próspero. Um país que volte a acreditar em si mesmo.

Um país efetivamente de todos – não como slogan, mas como realidade efetiva. São estas as minhas palavras e declaro abertos os trabalhos desta reunião do Colégio de Presidentes da OAB.

Muito obrigado."

---------- fim do discurso

 

Com o devido cuidado para evitar contágio partidário ou ideológico vale lembrar com a professora MARILENA CHAUI que a função principal da ideologia é, in verbis:

"(....)

A função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e políticas, dar-lhes a aparência de indivisão e de diferenças naturais entre os seres humanos. Indivisão: apesar da divisão social das classes, somos levados a crer que somos todos iguais porque participamos da idéia de ‘humanidade’, ou da idéia de ‘nação’ e ‘pátria’, ou da idéia de ‘raça’, etc. Diferenças naturais: somos levados a crer que as desigualdades sociais, econômicas e políticas não são produzidas pela divisão social das classes, mas por diferenças individuais dos talentos e das capacidades da inteligência, da força de vontade maior ou menor, etc.

A produção ideológica da ilusão social tem como finalidade fazer com que todas as classes sociais aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais, normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê-las realmente, sem levar em conta que há uma contradição profunda entre as condições reais em que vivemos e as idéias.

Por exemplo, a ideologia afirma que somos todos cidadãos e, portanto, temos todos os mesmos direitos sociais, econômicos, políticos e culturais. No entanto, sabemos que isso não acontece de fato: as crianças de rua não têm direitos; os idosos não têm direitos; os direitos culturais das crianças nas escolas públicas é inferior aos das crianças que estão em escolas particulares, pois o ensino não é da mesma qualidade em ambas; os negros e índios são discriminados como inferiores; os homoxessuais são perseguidos como pervertidos, etc.

A maioria, porém, acredita que o fato de ser eleitor, pagar as dívidas e contribuir com impostos já nos faz cidadãos, sem considerar as condições concretas que fazem alguns serem mais cidadãos do que outros. A função da ideologia é impedir-nos de pensar nessas coisas."

(In: Convite à Filosofia - www.atica.com.br - p. 174, ISBN 85-08-04735-5)

Republicanamente,

 

 

Carlos Perin Filho

E.T. fair playing a la Pierre de Coubertin:

Outro exemplo de discussão atual sobre paraconsistências apresentadas pelo seu(s) tecido(s) social/is coletivo(s) pode ser encontrada em http://www.geocities.com/cartapublica2006/

 

 


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