Em editorial de 21.6.2002, o jornal Folha
de S. Paulo opina sobre a crise na UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, in
verbis:
"A crise na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
(FFLCH) da Universidade de São Paulo é sintoma de uma crise maior, da própria USP. Não
faz sentido afirmar que a universidade vai bem e que apenas as ciências humanas vão mal.
A universidade surgiu no Ocidente no século 11 associada às noções
de universitas (o todo, o universo) e de studia generalia (estudos
gerais). Soa assim contraditório até mesmo sugerir que possa haver uma universidade que
não disponha de um bom centro de humanidades. Uma instituição dessa natureza não
passaria de um aglomerado de faculdades técnicas. É algo que não se confunde com o
conceito de Universidade, que deve constituir um sistema integrado de transmissão e
produção de saber. E o termo saber aqui deve ser compreendido em sua
generalidade. Traduzindo, não pode haver boa universidade sem bons cursos de filosofia,
história, letras.
Especialmente no século 20, com o notável sucesso das ciências
físicas e biológicas, as humanas experimentaram dificuldades. É muito mais fácil
justificar para a sociedade a concessão de verbas para a pesquisa do câncer do que para
um estudo comparativo das línguas indo-européias, por exemplo. No caso do Brasil e da
USP especificamente, essa tendência, que é global, foi ainda reforçada por um contexto
de escassez de verbas públicas e de mudanças na estrutura da universidade que
favoreceram os centros mais rentáveis.
O resultado é que a FFLCH foi como que abandonada à própria sorte.
Não consegue da reitoria nem mesmo os recursos para repor os docentes que se aposentam.
O problema é no fundo político. A carência de verbas não vai ser
resolvida da noite para o dia, mas uma movimentação da opinião pública universitária
em favor da FFLCH - como agora parece ocorrer - pode levar a reitoria a partilhar mais
igualitariamente os recursos de que dispõe."
Vale lembrar que Você Cidadania contribuinte do ESTADO DE SÃO PAULO
está pagando a Faculdade de Filosofia da USP para este Cidadão, que por sua vez concorda
com o editorial supra transcrito por várias razões.
Primeira: não obstante estar acostumado com classes cheias de Colegas
da época que cursou a Faculdade de Direito da USP, a situação na Filosofia é mais
grave, pois as salas de aulas são menores e as disciplinas introdutórias são
naturalmente mais abstratas (a lembrar os seminários de Filosofia do Direito), exigindo
uma atitude específica tanto dos(as) Professores(as) quanto dos(as) Alunos(as).
Segunda: o resultado do desequilíbrio referido é a frustração
profissional dos(as) Professores(as), um número de evasão escolar muito alto e uma
percepção equivocada da própria Filosofia, o que Ninguém nega ser um desastre
para Alguém que deseja ser Humano.
Terceira: para concluir, vale lembrar que as petições administrativas
para - www.usp.br - não se referem à esta ou àquela
Faculdade, mas sim às noções de universitas, e de studia generalia, pois
estão diretamente relacionadas ao conceito que a USP guarda - ou deve guardar - de si
mesma enquanto pessoa jurídica de direito público, autarquia de regime especial, com
autonomia didático-científica, administrativa, disciplinar e de gestão financeira e
patrimonial (artigo 207 da Constituição Federal combinado com o artigo 1º, Estatuto da
USP).
Uspianamente,
Carlos Perin Filho
E.T.:
Petição
em andamento para
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO e Você Cidadania (27/02/2002)
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