Em Filosofia experiências de pensamento fornecem elementos hipotéticos relevantes para o pensar, conforme exemplifica o seguinte verbete, in verbis:

"cérebro numa cuba Uma versão atualizada, introduzida por * Putnam, da experiência de pensamento de * Descartes com o gênio maligno (ver dúvida metódica). Somos convidados a considerar a possibilidade cética de nossa experiência ser de fato produzida por um cérebro, preservado de certa maneira (numa cuba) e estimulado eletricamente para nos fornecer a experiência ilusória de viver a vida com a qual estamos familiarizados. Uma reação possível seria negar que isso seja sequer uma simples possibilidade lógica; outra reação é argumentar que mesmo que isso seja uma possibilidade lógica, sabemos que as coisas não são assim. Um argumento controverso de * Putnam tenta mostrar que a hipótese que afirma que eu sou um cérebro numa cuba se autodestrói, uma vez que se eu fosse tal e usasse a frase ‘Sou um cérebro numa cuba’, não estaria me referindo a cérebros e cubas, e portanto não estaria exprimindo uma apreciação de minha verdadeira situação." (In: Dicionário Oxford de Filosofia - www.zahar.com.br - p. 57)

Aqui vale lembrar o filme THE MATRIX, que em outro hipercontexto faz uso daquela experiência de pensamento, para evidenciar um certo automatismo reflexo do funcionamento mental de Seres Humanos em condições experimentais no planeta Terra, fornecendo energia elétrica :-(cuidado especial com a Administração Pública... em época de apagão...!;-) para Seres Não Humanos experimentarem suas próprias inteligências artificiais, bem como remete para uma realidade dramática, na qual Seres Humanos geram outros Seres, porém em oposição àquela experiência de pensamento, pois destituídos de cérebros, mesmo que virtualmente concebidos dentro de cubas, conforme referido nos antecedentes históricos da petição inicial da Ação Popular do Dano Ambiental de Cubatão, Serra do Mar e Mata Atlântica:

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Dos Antecedentes Históricos

Em fevereiro de 1981, o ministro do Interior, MÁRIO ANDREAZZA, assim procedeu frente ao problema de fato e de direito tratado nesta actio popularis, in verbis:

"Famílias evacuadas em Cubatão

O ministro do Interior, Mário Andreazzam anunciou que 950 famílias residentes em Vila Parisi, no município paulista de Cubatão, seriam transferidas para uma área livre de poluição industrial, responsável por elevada taxa de mortalidade infantil. De acordo com a Secretaria de Saúde de São Paulo, 80% dos habitantes de Cubatão sofrem de problemas respiratórios."

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A poluição atmosférica, resultante de grandes concentrações industriais, foi motivo de crescente preocupação e de enérgicos protestos. Cubatão, perto de São Paulo, esteve em evidência devido à ocorrência de 13 casos de anencefalia (ausência de cérebro) en fetos, durante o ano. Em outra ocasião, no começo do ano, muitas famílias tiveram de ser evacuadas de um bairro local, em virtude dos níveis insuportáveis da poluição ambiental."

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A cidade de Cubatão, a 60Km de São Paulo, tem 80.000 hab. e várias indústrias, entre elas a siderúrgica COSIPA, as fábricas de fertilizantes ultrafértil e Manah, e as empresas químicas Alba e Union Carbide. O complexo industrial da cidade lança mensalmente sobre seus habitantes 87,6 t de elementos poluentes - uma média de 10kg por habitante - entre eles dióxido e trióxido de carbono, amônia, partículas de carvão, óxido de ferro e rocha fosfática. Um dos bairros da cidade, Vila Parisi, foi citado em relatório da UNESCO como ‘o mais poluído do mundo’. Como resultado são comuns na cidade a asma e a bronquite, as dermatites e os casos de malformação em recém-nascidos. A mortalidade infantil é de 35% antes do primeiro ano de vida, índice quase dez vezes superior à média do Estado de São Paulo. É tal a indicência de anencefalia (falta de cérebro), que a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, ligada à USP, decidiu instalar em Cubatão um laboratório experimental para estudo da teratogênese - geração de monstros -, a fim de detectar os agentes provocadores.

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(In: LIVRO DO ANO 1982 - EVENTOS DE 1981, Enciclopaedia Britannica do Brasil, 1982, ps. 18; 72; 283 e 284, respectivamente)

Em 1982 a situação, de fato e de direito caminhava de mal a pior, conforme ilustrado a seguir, in verbis:

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Cubatão, em São Paulo, continuou durante o ano a ocupar o noticiário como uma das cidades mais poluídas do mundo. O Grupo de Estudos da Poluição do Ar, do Instituto de Física da USP, mediu uma concentração de poluentes de 1.150 microgramas por metro cúbico, em 19 de abril, e de 1.784 microgramas, em 20 de setembro, quando, segundo as autoridades do Estado, a concentração de 875 microgramas por metro cúbico já caracteriza uma situação de emergência. os casos de anencefalia (crianças que nascem sem cabeça) verificados nessa cidade e em outras da Baixada Santista foram explicados pelo professor Roque Monteleone, da Escola Paulista de Medicina, coordenador do Projeto Cubatão, como devidos à exposição das mães, durante a gestação, a gases de benzeno, produzidos principalmente pela refinaria Presidente Bernardes.

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(In: LIVRO DO ANO 1983 - EVENTOS DE 1982, Enciclopaedia Britannica do Brasil, 1983, p. 308)

Em 1983 a situação, de fato e de direito continuava a caminhar de mal a pior, com repercussão global, conforme ilustrado a seguir, in verbis:

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O grande problema de poluição em São Paulo ainda é Cubatão, o município mais poluído do mundo, que em 1983 foi visitado por uma comissão internacional de ecologistas. Os visitantes percorreram sobretudo a Vila Parisi, encravada entre as indústrias, e onde se registraram casos de crianças nascidas sem cérebro (anencefalia). A revista norte-americana Time chegou a publicar em setembro um artigo em que lembra que o local é conhecido como ‘o vale da morte’.

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(In: LIVRO DO ANO 1984 - EVENTOS DE 1983, Enciclopaedia Britannica do Brasil, 1984, p. 289)

Em 1984, o problema ambiental exibia o seguinte retrato, in verbis:

"AMBIENTE/POLUIÇÃO: a história de Cubatão

As duas caras do milagre

No governo JK são armadas as equações de uma espécie de laboratório químico e social: o parque industrial e humano de Cubatão

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As substâncias poluentes não são perigosas apenas por si mesmas, mas tendem a se combinar e se reorganizar, dependendo das condições de umidade do ar e outros fatores. O resultado é um verdadeiro laboratório químico ao natural, onde podem formar-se substâncias ainda mais perigosas que as originais. Cabia à Cetesb efetuar as medidas da poluição em Cubatão. Entre 1970 e 1980 esta companhia promulgou anualmente mais de uma dezena de advertências e multas contra as empresas que violavam os níveis máximos de emissão de poluentes. Mas seus instrumentos careciam de precisão e os seus dados não eram geralmente considerados os (sic) confiáveis por outros pesquisadores preocupados com o inferno da cidade.

Em termos de quantidade, o pior poluente em Cubatão são os óxidos de enxofre, cujas moléculas são formadas por átomos de oxigênio e de enxofre. Combinando-se com a umidade da atmosfera, isto é, com o hidrogênio da água, eles transformam-se em ácido sulfúrico. O acido (sic) sulfúrico condensa-se na atmosfera e cai sob a forma de ‘chuva que queima’, muito conhecida dos moradores de Cubatão.

(....)"

(In: RETRATO DO BRASIL, v. 12, Política Ed., 1984, p. 138, Doc. III)

(....)"

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Infelizmente a experiência vivencial de Você Cidadania em Cubatão, Serra do Mar & Mata Atlântica é muito mais dramática que a ficção, seja ela filosófica, por experiências de pensamento, seja ela cinematográfica, por efeitos especiais. Cabe pensar, para (re)existir.

Filosoficamente,

Carlos Perin Filho

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