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Folha - Perguntado certa vez pela revista Caros Amigos
se teria medo de entrar num restaurante chique e ser olhado com desdém por ser negro, o
senhor respondeu que sim. É isso mesmo em 2001?
Santos - Os negros têm medo sim. Não é só discriminação.
Discriminação tem nos Estados Unidos, só que lá o negro iria quebrar o restaurante, o
que seria considerado justo; aqui a polícia seria convocada para conter qualquer
manifestação. Eu me lembro de duas pessoas importantes, o Florestan Fernandes e Celso
Furtado, em duas ocasiões diferentes, uma em Nova York e outra em Paris, de onde ambos me
disseram: daqui a alguns anos vamos ter no Brasil reações muito violentas da parte dos
negros em relação à situação em que eles se encontram. Isso eles me disseram há
vinte anos.
Folha - Mas não aconteceu.
Santos - Está perto de acontecer, espero que aconteça. Creio que
inclusive processos como o da distribuição da educação vão ajudar porque os negros
que conseguem estudar descobrem que não têm igual acesso às oportunidades e, sobretudo,
eles sabem que raramente estarão em grandes escolas. Há algo que vai acelerar. São
grupos poucos numerosos e alguns deles se deixam cooptar de uma forma ou de outra. Mas
essa cooptação vai se tornar impossível daqui a algum tempo e daí o vaticínio de
Florestan Fernandes e Celso Furtado vai se realizar.
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