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Excelentíssima
Senhora Desembargadora Federal
CECILIA MARCONDES - Terceira Turma -
Egrégio Tribunal Regional Federal da Terceira Região
(TRF3-01/Dez/2000-12:07
2000.291202-DOC/UTU3)
Autos nº 1999.03.99.063930-1
Apelação Cível - Ação Popular
Apelante: Carlos Perin Filho
Apelada: União Federal
Carlos Perin Filho, residente na Internet, em www.carlosperinfilho.net
(convido a visitar), nos autos do recurso supra, venho, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, apresentar, em ilustração, as seguintes matérias,
doutrinas e comentários:
A matéria jornalística é da Folha de S. Paulo, de 01/12/2000,
p. A-4, sobre acusações da existência de Funcionários(as) Públicos(as)
Torturadores(as) nos quadros da Ré UNIÃO FEDERAL, in verbis:
"GOVERNO Tenente acusado de torturas, que trabalhava no
órgão, é afastado
General Cardoso demite o direitor-geral da Abin
DA SUCURSAL DE
BRASÍLIA
DO ENVIADO ESPECIAL AO MÉXICO
O diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência),
coronel Ariel de Cunto, foi demitido ontem depois de confirmar que havia nomeado um
tenente do Exército acusado de participar de sessões de tortura durante o regime militar
para um cargo de confiança na agência.
O afastamento de De Cunto foi exigido pelo ministro-chefe do Gabinete
de Segurança Institucional, general Alberto Cardoso, que exigiu também o afastamento do
tenente Carlos Alberto del Mazezzi, responsável pelo Departamento de Organização
Criminosa (DOC), que cuida de atividades de prevenção à espionagem.
(....)"
Em evolução à terminologia empregada nas petições anteriores,
mister render as referências "paradoxais" às "paraconsistentes". Por
"paraconsistências" são consideradas as situações de fato e/ou de direito
nos quais a lógica tradicional se revela inadequada, conforme exemplificações de NEWTON
C. A. DA COSTA et alii, in verbis:
"3.3 LÓGICA PARACONSISTENTE MODELANDO O CONHECIMENTO HUMANO
No mundo em que vivemos é comum depararmos com inconsistências em
nosso cotidiano. Para simplificar o entendimento da proposta e o significado da lógica
paraconsistente, realçando a importância de sua aplicação em situações em que a
lógica clássica é incapaz de gerar bons resultados, são discutidos nessa seção
alguns exemplos.
Em todos os exemplos que serão apresentados, as situações de
insonsistências e as indefinições estão presentes. O objetivo é mostrar que a lógica
paraconsistente pode ser aplicada para modelar conhecimentos por meio de procura de
evidências, de tal forma que os resultados obtidos são aproximados do raciocínio
humano.
Exemplo 1: Numa reunião de condomínio, para decidir uma
reforma no prédio, nem sempre as opiniões dos condôminos são unânimes. Se sempre
houvesse unanimidade, isso facilitaria muito a decisão do síndico. Alguns querem a
reforma, outras não, gerando contradições. Outros nem mesmo têm opinião formada,
gerando indefinições. A análise detalhada de todas as opiniões, contraditórias,
indefinidas, contra e a favor, pode originar buscas de outras informações para gerar uma
decisão de aceitação ou não da reforma do prédio. A decisão tomada vai ser baseada
nas evidências trazidas pelas diferentes opiniões.
Exemplo 2: Um administrador, chefe de uma equipe, que tem a
missão de promover um de seus funcionários, deve avaliar várias informações antes de
deferir o pedido. As informações provavelmente virão de várias fontes: departamento
pessoal, chefia direta, colegas de trabalho etc. É de se prever que essas informações
vindas de várias fontes podem ser conflitantes, imprecisas, totalmente favoráveis ou
ainda totalmente contrárias. Compete ao administrador a análise dessas múltiplas
informações para tomar uma decisão de deferimento ou indeferimento. Com todas as
informações o administrador pode ainda considerar as informações insuficientes ou
então totalmente contraditórias; nesse caso, novas informações deverão ser buscadas.
Como foi visto nos dois exemplos anteriores, a principal
característica do comportamento humano é tomar decisões conforme os estímulos
recebidos provenientes das variações de seu meio ambiente. Na realidade, as variações
das condições ambientais são muitas e, às vezes, inesperadas, resultando em estímulos
quase sempre contraditórios. Em face disso, é necessária a utilização de uma lógica
que contemple todas essas variações e não apenas duas, como faz a lógica tradicional
ou clássica. Portanto, fica claro que há algumas situações em que a lógica clássica
é incapaz de tratar adequadamente os sinais lógicos envolvidos. É nesses casos que os
circuitos e sistemas computacionais lógicos, que utilizam a lógica binária, ficam
impossibilitados de qualquer ação e não podem ser aplicados. Por conseguinte,
necessitamos buscar sistemas lógicos em que se permita manipular diretamente toda essa
faixa de informações e assim descreva não um mundo binário, mas real.
Exemplo 3: Um operário que atravessa uma sala para realizar
determinado serviço em uma indústria pode ter seus óculos inesperadamente embaçados
pela poluição ou pelo vapor. Sua atitude mais provável é parar e fazer a limpeza em
suas lentes para depois seguir em frente. Esse é um caso típico de indefinição nas
informações. O operário foi impedido de avançar por falta de informações oriundas de
seus sensores da visão sobre o ambiente. Por outro lado, o operário pode, ao atravessar
a sala na obscuridade, deparar com uma porta de vidro que emita reflexo da luz ambiental,
confundindo sua passagem pelo ambiente. Esse é um caso típico de inconsistência, porque
as informações foram detectadas por seus sensores da visão com duplo sentido. O
comportamento normal do operário é parar, olhar mais atentamente. Caso seja necessário,
deve modificar o ângulo de visão, deslocando-se de lado para diminuir o efeito
reflexivo; somente quando tiver certeza, vai desviar da porta de vidro e seguir em frente.
Exemplo 4: Um quarto exemplo em que aparecem situações
contraditórias e indeterminadas pode ser descrito do seguinte modo:
Uma pessoa que está prestes a atravessar uma região pantanosa recebe
uma informação visual de que o solo é firme. Essa informação tem como base a
aparência da vegetação rasteira a sua frente. Essa informação, vinda de seus sensores
da visão, dá um grau de crença elevado à afirmativa: "pode pisar o solo
sem perigo". Não obstante, com o auxílio de um pequeno galho de árvore, testa
a dureza do solo e verifica que o mesmo não é tão firme como parecia.
Nesse exemplo, o teste com os sensores do tato indicou um grau de crença
menor do que o obtido pelos sensores da visão. Podemos atribuir arbitrariamente um valor
médio de grau de crença da afirmativa: "pode pisar o solo sem perigo".
Essas duas informações constituem um grau de conflito que faria a
pessoa ficar com certa dúvida, quanto à decisão de avançar ou não. A atitude mais
óbvia a tomar é procurar novas informações ou evidências que podem aumentar ou
diminuir o valor do grau de crença que foi atribuído às duas primeiras
medições. A procura de novas evidências, como efetuar novos testes com o galho, jogar
uma pedra etc., vai fazer variar o valor do grau de credibilidade. Percebendo que as
informações ainda não são suficientes, portanto consideradas indefinidas, é provável
que essa pessoa vá avançar com cautela e fazer novas medições, buscando outras
evidências que a ajudem na tomada de decisão. A conclusão dessas novas medições pode
ser um aumento no valor do grau de credibilidade para 100%, o que faria avançar com toda
confiança, sem nenhum temor. Por outro lado, a conclusão pode ser uma diminuição no
valor do grau de credibilidade, obrigando-a a procurar outro caminho.
A lógica paraconsistente pode modelar o comportamento humano
apresentado nesses exemplos e assim ser aplicada em sistemas de controle, porque se
apresenta mais completa e mais adequada para tratar situações reais, com possibilidades
de, além de tratar inconsistências, também contemplar a indefinição." (In: Lógica
Paraconsistente Aplicada, em co-autoria de JAIR MINORO ABE, JOÃO I. DA SILVA,
AFRÂNIO CARLOS MUROLO e CASEMIRO FERNANDO S. LEITE, Atlas, 1999, p. 37/9)
A lógica paraconsistente supra exemplificada é muito
importante para o oportuno e conveniente desenvolvimento do Direito, conforme ensina
CLAUDIA MARIA BARBOSA, in verbis:
"[5] A contribuição da lógica paraconsistente
A lógica deôntica é uma das muitas lógicas desenvolvidas a
partir da lógica clássica, sendo considerada uma lógica complementar a esta. De um
lado, porque observa as principais regras de inferência que caracterizam a lógica
clássica, quais sejam, as chamadas Leis do Pensamento; de outro lado, porque os
operadores de que se utilizam (obrigatório, proibido, permitido), permitem uma maior
capacidade de expressão do que aqueles baseados unicamente na lógica tradicional.
As lógicas complementares alargam o âmbito de aplicação da lógica
clássica. Os operadores que utilizam modificam o aparato lingüístico sob o ponto de
vista sintático, embora não alterem nada de essencial do ponto de vista semântico.
Também neste âmbito, as modificações são suplementares e visam
tão somente a maior adequação às relações sintáticas expressas pelos novos
operadores.
Ao lado dos sistemas lógicos complementares à lógica clássica, há
os chamados sistemas divergentes, rivais daquela, como aqueles denominados sistemas
lógicos paraconsistentes, os quais tem sido desenvolvidos com o propósito de substituir
os sistemas clássicos em determinadas situações, onde a lógica clássica tem se
mostrado insuficiente.
Algumas dessas lógicas paraconsistentes - as mais conhecidas -
distinguem-se da lógica clássica exatamente por derrogarem pelo menos um de seus
princípio (sic), os quais indicou-se anteriormente por Leis de Pensamento.
A primeira destas lógicas heterodoxas denomina-se lógica
não-reflexiva, e caracteriza-se por colocar em cheque o princípio da identidade.
Uma segunda lógica é a denominada paracompleta; nesta, a lei do
terceiro excluído é derrogada, admitindo-se Conseqüentemente que duas proposições
contraditórias, A e ~A sejam ambas falsas.
Ao lado destes sistemas paracompletos, há as lógicas
paraconsistentes, cuja base é a derrogação do princípio da contradição.
Um sistema lógico estruturado conforme o princípio da contradição
afirma de duas proposições A e ~A que, se uma for verdadeira, a outra é falsa.
No esquema exposto por Newton DA COSTA, uma teoria dedutiva T, cuja
linguagem contenha um símbolo para a negação, é dita inconsistente se o conjunto de
seus teoremas contém ao menos dois deles, um dos quais sendo a negação do outro. Sendo
A e ~A tais teoremas, ambos integrantes de um mesmo sistema lógico, apresenta uma
contradição. A teoria T chama-se trivial (ou supercompleta) se todas as proposições
formuláveis em sua linguagem forem teoremas de T, ou dito de outra forma, se tudo o que
puder ser expresso na linguagem T puder ser provado em T.
Inconsistência e trivialidade não significam a mesma coisa, mas no
âmbito da lógica clássica são considerados conceitos equivalentes, uma vez que um
deles implica o outro.
Assim a presença de uma contradição trivializa T, ou seja, se em um
único sistema de lógica clássica forem derivadas duas sentenças, uma das quais sendo a
negação da outra, então qualquer sentença exprimível na linguagem T pode ser derivada
em T.
Dito de outra forma, nas lógicas ditas clássicas, em geral, é
válido o princípio ex falso sequitur quod libet, formalmente expresso pela
fórmula (A & ~A) - > B, que indica que "de uma falsidade, tudo se
segue". Ou, tomando-se em consideração a idéia da contradição, "de uma
contradição, qualquer coisa pode ser concluída".
Se tudo se pode concluir de uma falsidade ou de uma contradição,
pode-se provar qualquer coisa, e será impossível distinguir o falso do verdadeiro, de
forma que, desde o ponto de vista da lógica clássica, um sistema trivial é inútil,
porque se a partir dele tudo se pode afirmar, ele não acrescenta nenhuma informação.
As lógicas paraconsistentes buscam obstaculizar essa implicação
entre inconsistência e trivialidade, de forma que em um sistema se possam admitir
determinadas contradições sem que com isso se "contamine" o sistema como um
todo. São portanto sistemas lógicos capazes de fundamentar teorias inconsistentes e não
triviais. Assim, admite-se proposições contraditórias sem que por isso o sistema perca
seu valor científico.
Em um artigo denominado Normative Logics, Morality and Law,
Leila Zardo PUGA, Newton da COSTA e Roberto VERNENGO partem de duas constatações que por
si só, defendem eles, justificam a utilização de sistemas lógicos paraconsistentes no
direito.
De um lado, entendem que em sua grande maioria, os corpus
normativos legais, que compõem em grande parte o arcabouço legislativo de direito
contemporâneo, contêm normas que implicam contradições; por exemplo, uma mesma ação
é regulada como obrigatória e, ao mesmo tempo, como proibida. Ou então, em certas
circunstâncias, uma mesma ação é de um lado caracterizada como obrigatória e ao mesmo
tempo como não devida (proibida).
Estas circunstâncias ficam mais evidentes quando está-se frente a
dilemas deônticos, caracterizados quando uma pessoa deve cumprir uma ação que ela, ao
mesmo tempo, não está obrigada a desempenhar.
Assim, por exemplo, no caso de aborto espontâneo, particularmente
quando o feto e a mãe competem pela sobrevivência, isto é, quando apenas um deles
poderá sobreviver. Está-se diante de um dilema moral, e estes normalmente ensejam
conflitos normativos que um ordenamento comumente não consegue resolver.
A segunda aplicação vislumbrada pelos autores citados diz respeito
às lacunas legais e aos muitos conceitos vagos e ambíguos de que se utiliza o direito -
e não só ele - na definição de seus conceitos legais.
Em diferentes circunstâncias em que se utiliza um mesmo signo
lingüístico, este adquire diferentes conotações em função de se (sic) uso, das
situações em que é definido, e assim por diante. Sistemas formalizados neste caso
apresentariam a vantagem de contar com a precisão dos componentes do sistema e dos
operadores, formalmente traduzidos, com a vantagem de que, no sistema lógico
paraconsistente, a admissão de uma contradição não faz desmoronar todo o sistema.
Como já foi explicitado, a lógica clássica, e mesmo a lógica
deôntica complementar a esta, não admite contradições sem que com isso todo o sistema
entre em colapso. Dito de outra forma, a lógica clássica não abarca e tampouco admite
contradições que, consideram estes autores, são imanentes entre outras, ao direito e à
moral.
Nesse contexto é que se considera a utilidade das lógicas
paraconsistentes, e especialmente no caso do direito, a lógica deôntica paraconsistente,
que, embora ainda formalmente incipiente, busca justamente a elaboração de sistemas
lógicos que admitam contradições, sem que dessa assunção decorra a trivialidade do
sistema como um todo.
De fato, hoje admite-se que o direito abarca contradições, mas, de
formas variadas, diversos pensadores vem relativizando estes "problemas"
utilizando-se de conceitos variáveis de sistema, de unidade do ordenamento, e da própria
completude do direito.
Admite-se que a coerência é propriedade não do ordenamento como um
todo, mas de suas diversas partes (Tércio FERRAZ JR. Norberto BOBBIO).
Nesse contexto, o desenvolvimento de sistemas deônticos
paraconsistentes pode ser de grande utilidade porque através da formalização torna-se
mais fácil identificar a existência de paradoxos e enunciados que implicam sentenças
contraditórias, as quais a utilização da linguagem natural, por suas limitações, não
revela.
Observa-se que se fala em pluralidade de sistemas lógicos
paraconsistentes. Isto porque, como não há no estudo da lógica deôntica um único
sistema capaz de explicar e formalizar todo o direito, da mesma forma ocorre com as
lógicas paraconsistentes. Não há apenas uma, e tampouco as lógicas paracompletas e
não-reflexivas expressam a totalidade das lógicas heterodoxas.
A discussão quanto ao objeto, à função e distinção das normas e
das proposições normativas, suas estrutura, a possibilidade de aplicação dos
princípio (sic) lógicos às normas, e sua adequada formalização, também estão
presentes quando se tem em conta a perspectiva da formalização de um sistema lógico
paraconsistente.
Também aqui se discutem os operadores que compõe a lógica deôntica,
e a perspectiva de uma lógica multivalorativa que proponha outros valores além do
verdadeiro ou falso, ou mesmo do válido ou inválido, conforme o caso.
A premissa que une as diversas propostas que já apareceram e que
continuam a surgir neste campo, é a possibilidade de construção de uma lógica onde
admita-se a existência de contradição sem que com isso o sistema perca sua utilidade.
Dito de outra forma, uma lógica inconsistente, mas não trivial.
É nesse sentido que pode estar se abrindo um novo caminho para que
(sic) o direito, mesmo com contradições e lacunas que traduzem a própria complexidade
das relações sociais. Nessa perspectiva, a lógica deôntica paraconsistente passa a ser
instrumento importantíssimo de análise do próprio direito e da ciência
jurídica." (In: PARADOXOS DA AUTO-OBSERVAÇÃO - PERCURSOS DA TEORIA JURÍDICA
CONTEMPORÂNEA, organizado por LEONEL SEVERO ROCHA, JM Editora, Curitiba, 1997, p.
89/92)
A lógica paraconsistente, na teoria e na prática supra
exemplificadas, repercute na metodologia científica também do Direito Administrativo, ao
conferir estruturas lógicas novas aos seus métodos, conforme ensina JOSÉ CRETELLA
JÚNIOR, in verbis:
"Capítulo XV
METODOLOGIA DO DIREITO ADMINISTRATIVO
127. O problema do método
O direito administrativo utiliza-se de método próprio,
para a estrutura de seus institutos.
Método é o caminho que o espírito humano percorre para
atingir o objeto. É o conjunto de regras que disciplinam a razão,
orientando-a para o conhecimento da verdade.
O procedimento metódico, que se contrapõe ao casual, conduz
o sujeito cognoscente ao objetivo visado, evitando-se desse modo a tentativa
assistemática, o caminho inadequado, que acarreta inútil perda de tempo e afastamento
progressivo da verdade, podendo ser o método comparado a um mapa preciso que
indica a verdadeira rota, sem divagações, levando dentro de pouco à identificação dos
termos do binômio sujeito-objeto, ao contrário da indefinida informação oral, dada por
um leigo, que apenas por coincidência guiará o caminhante ao ponto exato que pretende
alcançar.
Cada ciência pesquisa as características de determinado tipo de
objeto (aspecto formal), havendo muitas ciências que consideram o mesmo objeto (aspecto
material), sendo o primeiro aspecto - o formal - que torna diferente uma ciência de
outra.
Cabe à metodologia investigar e descobrir qual dentre os
vários processos racionais é peculiar a uma dada ciência. Assim, Metodologia é
a ciência que descobre o método com que cada ciência deve trabalhar para atingir seu
objeto. É a ciência da seleção do método adequado.
Assim como nas ciências físico-naturais há um caminho que se adapta
aos objetos do mundo físico (objetos naturais), também nas ciências jurídicas e
sociais existem categorias especiais de métodos que se flexionam ao mundo cultural em que
outros objetos se movimentam. E, do mesmo modo que, na maioria das vezes, não é
indiferente a escolha de via terrestre, marítima ou aérea, para chegar a determinado
tempo, inacessível, a uma das vias indicadas, no mundo das ciências é preciso também
descobrir quais as rotas mais compatíveis para a apreensão dos diferentes objetos.
Que tipo de objeto é o direito? Que método ou caminho
deve ser empregado para captá-lo do mundo mais completo possível?
Tais indagações competem à filosofia do direito, que auxilia os
diversos ramos do direito, na perseguição exata e completa de seus respectivos objetos.
Depende de duas circunstâncias a eleição do método em
questão: do fim que se pretende alcançar e da natureza da disciplina a que
deve aplicar-se.
Teoricamente falando e levando-se em consideração os diferentes
momentos do trabalho científico, admitem os métodos, em geral, uma tríplice
classificação: a) métodos de pesquisa; b) métodos de
sistematização; c) métodos de exposição.
Os métodos de pesquisa dirigem-se aos objetos para depois
receber formalização em juízos certos ou prováveis.
Os métodos de sistematização e os de exposição
trabalham com os resultados alcançados pelos primeiros, contribuindo para divulgá-los.
Há muitas outras espécies de métodos, como os discursivos ou
de inferência mediata e os intuitivos ou de inferência imediata.
Consiste o método discursivo numa série de esforços
sucessivos em torno do objeto para envolvê-lo, mediante uma série de proposições que
se encadeiam, progressivamente.
Consiste o método intuitivo em operação integral, única e
indivisa do espírito, que se projeta sobre o objeto e o domina, abrangendo-o numa
panvisão, sem que nada - nenhuma proposição, nenhum juízo - se interponha entre o
sujeito cognoscente e o objeto cognoscível.
O método discursivo compreende não só a dedução, que parte
de uma verdade ou princípio geral e chega a uma verdade individual e limitada, havendo,
pois, uma espécie de descida entre um princípio e uma conclusão verdadeira, como
também a indução, que segue o caminho inverso, partindo do caso particular para
consubstanciar-se em um princípio geral. Divide-se a indução em aristotélica e baconiana.
Os métodos de inferência imediata estão reunidos sob o
título genérico de métodos intuitivos.
Intuição, em sentido lato, é a "visão direta do objeto
pelo sujeito", é o "contato integral e imediato dos dois termos do binômio
sujeito-objeto", a tal ponto que, nada se colocando de permeio entre ambos, é
possível a mais perfeita identificação de quem procura com o objetivo procurado.
A intuição pode ser sensível e espiritual,
compreendendo esta última, a intelectual, a emotiva e a volitiva.
Há ainda várias outras modalidades de intuições: a de Bergson, a de Husserl.
Por esta simples apresentação não é difícil concluir como é
complexo, em filosofia, o problema do método e da metodologia." (In: CURSO DE
DIREITO ADMINISTRATIVO - DE ACORDO COM A CONSTITUIÇÃO VIGENTE, Forense, 15ª ed. p.
175/7)
Para concluir esta abordagem terminológica sobre o método e a
evolução científica no hipertexto daquelas ilustrações, mister manter o espírito
jurídico aberto para novas percepções fenomenológicas, pois "O método é tão
infinito quanto a própria ciência" como ensina EUGEN EHRLICH (cf. FUNDAMENTOS DA
SOCIOLOGIA DO DIREITO, Unb, 1986, p. 388, trad. RENÉ ERNANI GERTZ), e "Talvez seria
melhor limitarmo-nos a conceber esta maneira particular do pensamento jurídico como um
estilo deste pensamento, que constitui uma individualidade cultural da caráter próprio.
Este estilo foi se formando no curso de séculos e foi acentuado, às vezes mais, às
vezes menos. Com o termo "estilo" já estaria dito que não se pode separar este
caráter do conteúdo, do pensamento, que é efetivamente a maneira na qual este
pensamento é exercitado em nossa comunidade cultural. Entra-se neste estilo como que
crescendo para dentro dele e a formação jurídica é um conhecido testemunho como sucede
este crescer para dentro. Este estilo se situaria numa íntima relação de troca com as
correntes fundamentais políticas, espirituais e científicas de cada época, incorporando
e elaborando os momentos mais fortes destas correntes fundamentais. Este estilo não
seria, portanto, algo apriórico, mas parte da cultura global de um contexto jurídico,
assim como o direito mesmo também é apenas parte desta cultura. Pode-se, portanto,
aceitar sem mais que em outros contextos jurídicos se formou um outro estilo de trabalho
jurídico e de pensamento jurídico, sem que, no entanto, se tenha que tentar relacionar
os estilos ou harmonizá-los de alguma maneira entre si. Tais tentativas também não se
fariam em relação com a história de povos individuais e seus contextos
culturais.", como ensina JAN SCHAPP (cf. PROBLEMAS FUNDAMENTAIS DA METODOLOGIA
JURÍDICA, Sergio Antonio Fabris Editor, Porto Alegre, 1985, trad. ERNILDO STEIN).
Do ilustrado requeiro o regular andamento do popular apelo.
São Paulo, 01 de dezembro de 2000.
179º da Independência e 113º da República.
Carlos Perin Filho
OAB-SP 109.649
E.T.:
Nome e assinaturas não conferem frente aos documentos apresentados com exordial em
função da reconfiguração de direito em andamento, nos termos da Ação Popular nº
98.0050468-0, 11ª Vara Federal de São Paulo, ora em grau de Apelação, sob a relatoria
do Desembargador Federal ANDRADE MARTINS, em autos sob nº 2000.03.99.030541-5.
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