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Excelentíssimo(a) Senhor(a) Doutor(a) Juiz(a) Federal da 18ª Vara da
Seção da Justiça Federal de São Paulo
(31 AGO 16 08 00 046423)
Autos nº 1999.61.00.004802-9
Ação Popular
Autor: Carlos Perin Filho
Réus: União Federal e Ots.
Carlos Perin Filho, nos autos da ação em epígrafe, venho,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, em ilustração à esta actio
popularis, apresentar as seguintes matérias e comentários:
Por ANDRÉA MICHAEL, da Sucursal de Brasília, do jornal Folha de São
Paulo publicada hoje, p. B-10, a informação sobre o ajuizamento - pelo MINISTÉRIO
PÚBLICO FEDERAL - de uma ação de procedimento cautelar com pedido de ordem liminar,
questionando mudanças no cálculo do Imposto Sobre Produtos Industrializados - IPI -
sobre produtos defeituosos originários do tabaco, bem como incluindo argumentos relativos
aos efeitos do produto sobre a saúde pública, questões discutidas nesta sob um ponto de
vista diverso, com destaque para os seguintes parágrafos, in verbis:
"O Ministério Público Federal entrou ontem com ação contra a
União e quatro empresas do setor do fumo. A ação questiona mudanças no cálculo do IPI
(imposto sobre Produtos Industrializados) sobre cigarros.
Os procuradores do Ministério Público Federal em Brasília alegam
que, em função de mudanças, instituídas em maio do ano passado, a União, principal
beneficiária da arrecadação, sofre perdas anuais de R$ 500 milhões na receita com o
imposto.
(....)
O consumo e a produção cresceram, o lucro das empresas subiu
vertiginosamente, o número de doenças decorrentes do fumo aumentou, mas a arrecadação
do IPI caiu, disse o procurador Luiz Francisco de Souza, que apresentou a ação
juntamente com os procuradores Guilherme Schelb, Oswaldo Silva e Alexandre Assis.
(....)"
Claros e precisos os ilustres representantes do MINISTÉRIO PÚBLICO
FEDERAL - em lógica paraconsistente - conforme desenvolvido nesta petição.
A lógica paraconsistente é muito importante para o oportuno e
conveniente desenvolvimento do Direito, conforme ensina CLAUDIA MARIA BARBOSA, in
verbis:
"[5] A contribuição da lógica paraconsistente
A lógica deôntica é uma das muitas lógicas desenvolvidas a
partir da lógica clássica, sendo considerada uma lógica complementar a esta. De um
lado, porque observa as principais regras de inferência que caracterizam a lógica
clássica, quais sejam, as chamadas Leis do Pensamento; de outro lado, porque os
operadores de que se utilizam (obrigatório, proibido, permitido), permitem uma maior
capacidade de expressão do que aqueles baseados unicamente na lógica tradicional.
As lógicas complementares alargam o âmbito de aplicação da lógica
clássica. Os operadores que utilizam modificam o aparato lingüístico sob o ponto de
vista sintático, embora não alterem nada de essencial do ponto de vista semântico.
Também neste âmbito, as modificações são suplementares e visam
tão somente a maior adequação às relações sintáticas expressas pelos novos
operadores.
Ao lado dos sistemas lógicos complementares à lógica clássica, há
os chamados sistemas divergentes, rivais daquela, como aqueles denominados sistemas
lógicos paraconsistentes, os quais tem sido desenvolvidos com o propósito de substituir
os sistemas clássicos em determinadas situações, onde a lógica clássica tem se
mostrado insuficiente.
Algumas dessas lógicas paraconsistentes - as mais conhecidas -
distinguem-se da lógica clássica exatamente por derrogarem pelo menos um de seus
princípio (sic), os quais indicou-se anteriormente por Leis de Pensamento.
A primeira destas lógicas heterodoxas denomina-se lógica
não-reflexiva, e caracteriza-se por colocar em cheque o princípio da identidade.
Uma segunda lógica é a denominada paracompleta; nesta, a lei do
terceiro excluído é derrogada, admitindo-se Conseqüentemente que duas proposições
contraditórias, A e ~A sejam ambas falsas.
Ao lado destes sistemas paracompletos, há as lógicas
paraconsistentes, cuja base é a derrogação do princípio da contradição.
Um sistema lógico estruturado conforme o princípio da contradição
afirma de duas proposições A e ~A que, se uma for verdadeira, a outra é falsa.
No esquema exposto por Newton DA COSTA, uma teoria dedutiva T, cuja
linguagem contenha um símbolo para a negação, é dita inconsistente se o conjunto de
seus teoremas contém ao menos dois deles, um dos quais sendo a negação do outro. Sendo
A e ~A tais teoremas, ambos integrantes de um mesmo sistema lógico, apresenta uma
contradição. A teoria T chama-se trivial (ou supercompleta) se todas as proposições
formuláveis em sua linguagem forem teoremas de T, ou dito de outra forma, se tudo o que
puder ser expresso na linguagem T puder ser provado em T.
Inconsistência e trivialidade não significam a mesma coisa, mas no
âmbito da lógica clássica são considerados conceitos equivalentes, uma vez que um
deles implica o outro.
Assim a presença de uma contradição trivializa T, ou seja, se em um
único sistema de lógica clássica forem derivadas duas sentenças, uma das quais sendo a
negação da outra, então qualquer sentença exprimível na linguagem T pode ser derivada
em T.
Dito de outra forma, nas lógicas ditas clássicas, em geral, é
válido o princípio ex falso sequitur quod libet, formalmente expresso pela
fórmula (A & ~A) - > B, que indica que "de uma falsidade, tudo se
segue". Ou, tomando-se em consideração a idéia da contradição, "de uma
contradição, qualquer coisa pode ser concluída".
Se tudo se pode concluir de uma falsidade ou de uma contradição,
pode-se provar qualquer coisa, e será impossível distinguir o falso do verdadeiro, de
forma que, desde o ponto de vista da lógica clássica, um sistema trivial é inútil,
porque se a partir dele tudo se pode afirmar, ele não acrescenta nenhuma informação.
As lógicas paraconsistentes buscam obstaculizar essa implicação
entre inconsistência e trivialidade, de forma que em um sistema se possam admitir
determinadas contradições sem que com isso se "contamine" o sistema como um
todo. São portanto sistemas lógicos capazes de fundamentar teorias inconsistentes e não
triviais. Assim, admite-se proposições contraditórias sem que por isso o sistema perca
seu valor científico.
Em um artigo denominado Normative Logics, Morality and Law,
Leila Zardo PUGA, Newton da COSTA e Roberto VERNENGO partem de duas constatações que por
si só, defendem eles, justificam a utilização de sistemas lógicos paraconsistentes no
direito.
De um lado, entendem que em sua grande maioria, os corpus
normativos legais, que compõem em grande parte o arcabouço legislativo de direito
contemporâneo, contêm normas que implicam contradições; por exemplo, uma mesma ação
é regulada como obrigatória e, ao mesmo tempo, como proibida. Ou então, em certas
circunstâncias, uma mesma ação é de um lado caracterizada como obrigatória e ao mesmo
tempo como não devida (proibida).
Estas circunstâncias ficam mais evidentes quando está-se frente a
dilemas deônticos, caracterizados quando uma pessoa deve cumprir uma ação que ela, ao
mesmo tempo, não está obrigada a desempenhar.
Assim, por exemplo, no caso de aborto espontâneo, particularmente
quando o feto e a mãe competem pela sobrevivência, isto é, quando apenas um deles
poderá sobreviver. Está-se diante de um dilema moral, e estes normalmente ensejam
conflitos normativos que um ordenamento comumente não consegue resolver.
A segunda aplicação vislumbrada pelos autores citados diz respeito
às lacunas legais e aos muitos conceitos vagos e ambíguos de que se utiliza o direito -
e não só ele - na definição de seus conceitos legais.
Em diferentes circunstâncias em que se utiliza um mesmo signo
lingüístico, este adquire diferentes conotações em função de se (sic) uso, das
situações em que é definido, e assim por diante. Sistemas formalizados neste caso
apresentariam a vantagem de contar com a precisão dos componentes do sistema e dos
operadores, formalmente traduzidos, com a vantagem de que, no sistema lógico
paraconsistente, a admissão de uma contradição não faz desmoronar todo o sistema.
Como já foi explicitado, a lógica clássica, e mesmo a lógica
deôntica complementar a esta, não admite contradições sem que com isso todo o sistema
entre em colapso. Dito de outra forma, a lógica clássica não abarca e tampouco admite
contradições que, consideram estes autores, são imanentes entre outras, ao direito e à
moral.
Nesse contexto é que se considera a utilidade das lógicas
paraconsistentes, e especialmente no caso do direito, a lógica deôntica paraconsistente,
que, embora ainda formalmente incipiente, busca justamente a elaboração de sistemas
lógicos que admitam contradições, sem que dessa assunção decorra a trivialidade do
sistema como um todo.
De fato, hoje admite-se que o direito abarca contradições, mas, de
formas variadas, diversos pensadores vem relativizando estes "problemas"
utilizando-se de conceitos variáveis de sistema, de unidade do ordenamento, e da própria
completude do direito.
Admite-se que a coerência é propriedade não do ordenamento como um
todo, mas de suas diversas partes (Tércio FERRAZ JR. Norberto BOBBIO).
Nesse contexto, o desenvolvimento de sistemas deônticos
paraconsistentes pode ser de grande utilidade porque através da formalização torna-se
mais fácil identificar a existência de paradoxos e enunciados que implicam sentenças
contraditórias, as quais a utilização da linguagem natural, por suas limitações, não
revela.
Observa-se que se fala em pluralidade de sistemas lógicos
paraconsistentes. Isto porque, como não há no estudo da lógica deôntica um único
sistema capaz de explicar e formalizar todo o direito, da mesma forma ocorre com as
lógicas paraconsistentes. Não há apenas uma, e tampouco as lógicas paracompletas e
não-reflexivas expressam a totalidade das lógicas heterodoxas.
A discussão quanto ao objeto, à função e distinção das normas e
das proposições normativas, suas estrutura, a possibilidade de aplicação dos
princípio (sic) lógicos às normas, e sua adequada formalização, também estão
presentes quando se tem em conta a perspectiva da formalização de um sistema lógico
paraconsistente.
Também aqui se discutem os operadores que compõe a lógica deôntica,
e a perspectiva de uma lógica multivalorativa que proponha outros valores além do
verdadeiro ou falso, ou mesmo do válido ou inválido, conforme o caso.
A premissa que une as diversas propostas que já apareceram e que
continuam a surgir neste campo, é a possibilidade de construção de uma lógica onde
admita-se a existência de contradição sem que com isso o sistema perca sua utilidade.
Dito de outra forma, uma lógica inconsistente, mas não trivial.
É nesse sentido que pode estar se abrindo um novo caminho para que
(sic) o direito, mesmo com contradições e lacunas que traduzem a própria complexidade
das relações sociais. Nessa perspectiva, a lógica deôntica paraconsistente passa a ser
instrumento importantíssimo de análise do próprio direito e da ciência
jurídica." (in PARADOXOS DA AUTO-OBSERVAÇÃO - PERCURSOS DA TEORIA JURÍDICA
CONTEMPORÂNEA, org. LEONEL SEVERO ROCHA, JM Editora, Curitiba, 1997, p. 89/92)
Em aprofundamento àquelas considerações, LEILA Z. PUGA e NEWTON C.
A. DA COSTA, ao abordarem a Lógica Deôntica e o Direito, matematicamente ensinam, in
verbis:
"1. A TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO
Dentre as concepções mais conhecidas do Direito, destaca-se,
hoje, a teoria tridimensional, que é defendida por vários autores, sob formas diversas
(ver Reale [9]). Em linhas gerais, podemos caracterizar as teorias tridimensionais da
seguinte maneira:
"Para empregarmos uma expressão popular, densa de significado, a
primeira impressão que nos dá a lei é de algo feito para valer, isto é, de
uma ordem ou comando emanados de uma autoridade superior. Basta, porém, imaginar uma
pessoa na situação concreta de destinatário do chamado comando legal para
perceber-se quão complexo é o problema da validade do Direito. Há, em primeiro lugar,
uma pergunta quanto à obrigatoriedade da norma jurídica para todos, em geral, e para
determinada pessoa em particular, o que se desdobra em uma série de outras perguntas
sobre a competência do órgão que elaborou o modelo jurídico, a sua estrutura e o seu
alcance. Além desse plano de caráter formal, surge um outro grupo de questões, quanto
à conversão efetiva da regra de direito em momento de vida social, isto é, no tocante
às condições do real cumprimento dos preceitos por parte dos consociados; e,
finalmente, há uma terceira ordem de dificuldade, que consiste na indagação dos
títulos éticos dos imperativos jurídicos, na justiça ou injustiça, do comportamento
exigido.
"Eis aí, numa percepção sumária e elementar, os três fios com
que é tecido o discurso da validade do direito, em termos de vigência ou de
obrigatoriedade formal dos preceitos jurídicos; de eficácia ou da efetiva
correspondência social ao seu conteúdo; e de fundamento, ou dos valores capazes
de legitimá-los numa sociedade de homens livres". (Reale [9], pp. 28-29).
Em poucas palavras, para os tridimensionalistas, a experiência
jurídica se desenrola em três níveis, intimamente inter-relacionados: o do fato,
o do valor e o da norma.
(....)
Em virtude das considerações anteriores, percebe-se que a lógica
legal, subjacente a uma concepção do direito como a de Reale, afigura-se um tanto
complexa. Em sua formulação completa, ela deveria envolver vários tipos de modalidades,
tanto legais como morais e epistêmicas, além de operadores temporais.
(....)
LÓGICAS KANTIANAS E HINTIKKIANAS
Uma lógica clássica kantiana e hintikkiana é um sistema lógico
contendo modalidades deônticas e aléticas, tendo por base o cálculo proposicional
clássico C e, além disso, o axioma de Kant (OA ® à A, isto é, obrigatório implica possível) e o axioma
de Hintikka (ÿ A ® OA, isto é,
necessário implica obrigatório) devem ser válidos. Vamos estudar um sistema
proposicional deste tipo, que chamaremos de C. Os símbolos primitivos de C
são os seguintes: ® (implicação), Ù
(conjunção), Ú (disjunção) e ~ (negação); a
equivalência ( « ) é introduzida da maneira usual. Define-se
fórmula como é óbvio.
Os postulados de C (esquemas de axiomas e regras primitivas de
inferência) são os seguintes:
A ® ( B ® A )
( A ® B ) ® ( (
A ® ( B ® C ) ) ® ( A ® C ) )
A, A ® B/B
A Ù B ® A
A Ù B ® B
A ® ( B ® ( A Ù B ) )
A ® A Ú B
B ® A Ú B
( A ® C ) ® ( (
B ® C ) ® ( A Ú
B ® C ) )
( A ® B ) ® ( (
A ® ~B ) ® ~A )
A ® ( ~A ® B)
A Ú ~A
ÿ ( A ® B ) ® (ÿ A
® ÿ B )
ÿ A ® A
A / ÿ A
O ( A ® B ) ® (
OA ® OB )
A / OA
OA ® à A
(axioma de Kant)
ÿ A ® OA (axioma de Hintikka)
(....)
3. LÓGICAS PARACONSISTENTES
Para obtermos um sistema proposicional paraconsistente com
modalidades deônticas e aléticas, substituímos, em C, o cálculo proposicional
clássico C pelo cálculo C de da Costa (ver, por exemplo, da Costa [1]).
Tal sistema, denotado C , tem os mesmos símbolos primitivos de C.
Os postulados de C são os seguintes (onde A = ~(A ^ ~A)):
def.
A ® ( B ® A )
( A ® B ) ® ( (
A ® ( B ® C ) ) ® ( A ® C ) )
A, A ® B/B
A Ù B ® A
A Ù B ® B
A ® ( B ® ( A Ù B ) )
A ® A Ú B
B ® A Ú B
( A ® C ) ® ( (
B ® C ) ® ( A Ú
B ® C ) )
A Ú ~A
~ ~A ® A
B ® ( ( A ® B )
® ( ( A ® ~B ) ®
~A ) )
A Ù B ® ((A Ù B) Ù (A Ú
B) Ù (A ® B) )
ÿ ( A ® B ) ® ( ÿ
A ® ÿ B )
ÿ A ® A
A / ÿ A
O ( A ® B ) ® (
OA ® OB )
OA ® ~O~A
A / OA
A ® ( ÿ A ) Ù ( OA )
OA ® à A
ÿ A ® OA
A partir das idéias da secção precedente, podemos generalizar a
noção de C-estrutura, obtendo uma semântica para C , relativa à qual ele
é correto e completo. Em C podemos tratar dos dilemas morais e certos tipos de
contradições sem corrermos o risco de trivialização simples ou deôntica (cf. da Costa
e Carnielli [2] e Puga et al. [6] ).
Além disso, é fácil modificar a semântica e a axiomática de C
, obtendo-se, assim, lógicas paraconsistentes que são kantianas e não-hintikkianas,
não-kantianas e hintikkianas, e não-kantianas e não-hintikkianas.
Sendo C o primeiro cálculo de uma hierarquia C , 1 £
n £ w ( cf. da Costa [1] ), podemos ainda formalizar outras
lógicas paraconsistentes com modalidades deônticas e aléticas.
4. MODALIDADES EPISTÊMICAS
Denotemos por K o operador epistêmico de conhecimento. Assim, KA,
onde A é uma proposição, significa que certa pessoa conhece A.
Surge, então, a questão de se acrescentar K aos sistemas precedentes.
Consideremos C; à sua linguagem juntamos K, modificando o
conceito de fórmula, além de acrescentarmos os novos axiomas:
K(A ® B) ® (KA ® KB)
KA ® A
A / KA
ÿ A ® K ÿ A (omnisciência lógica)
O A ® KO A (omnisciência jurídica)
Denotemos a lógica proposicional resultante por C . Todos os
resultados referentes a C se estendem a C , em particular sua semântica.
C é, então, uma lógica que contém três tipos de
modalidades: legais, aléticas e epistêmicas. Seu estudo permite que se analisem as
inter-conexões entre tais modalidades e se avaliem os possíveis axiomas que as ligam.
Analogamente, o cálculo paraconsistente C é susceptível de
ser estendido pelo acréscimo do operador epistêmico K. Assim, aparecem problemas tais
como o seguinte: pode ser verdadeira uma fórmula como K(A Ù
~A), para qualquer proposição A?
(....)
OBSERVAÇÕES FINAIS
Cremos que a exposição anterior deixou clara a potência dos
métodos formais da lógica deôntica. Pelo seu emprego, parece razoável se esperar que
teorias complexas, como as teorias tridimensionais do direito, sejam, em parte,
suscetíveis de formalização ou, pelo menos, que as lógicas que lhe são subjacentes
possam ser explicitadas.
A complexidade das teorias não constitui impecilho (sic) para as suas
codificações lógico-formais. E as tentativas para se chegar a tais codificações
evidenciam o significado de numerosos problemas, que na formulação não formalizada das
mesmas não se percebe. Assim, a teoria tridimensional de Reale tem que explicitar, pelo
menos, as relações que devem governar os operadores morais, legais e epistêmicos. Mais
ainda, é preciso que se estabeleçam as bases para a introdução de modalidades
cronológicas nas lógicas que governam esses operadores.
A formalização, bem compreendida, é algo extremamente importante.
Por seu intermédio não se quer condensar em algumas fórmulas toda a riqueza de uma
teoria existente e informal. O fim da formalização é a obtenção de sistemas que nos
ajudem a compreender melhor as concepções informais, mais ou menos como um mapa de Paris
nos auxilia a nos orientarmos nessa cidade. Ninguém duvida da utilidade de um pequeno
mapa do metrô da capital francesa, da mesma forma que ninguém confunde tal mapa com a
Cidade Luz...
Os sistemas lógico-formais formulados para dar conta das teorias
tridimensionais do direito nos ajudarão, certamente, a melhor entendermos as mesmas; por
outro lado, essas teorias se tornarão, passo a passo, cada vez mais exatas e precisas com
a ajuda de semelhantes sistemas.
Nosso artigo constitui, somente, um passo inicial na tarefa de
elucidação das concepções tridimensionais, mas é, sem dúvida, um passo importante -
pelo menos por ter chamado a atenção dos especialistas para uma categoria realmente
significativa de problemas: o da interconexão dos diversos tipos de modalidades,
aléticas e não-aléticas." (Lógica Deôntica e Direito. Boletim da Sociedade
Paranaense de Matemática. Segunda Série, Curitiba, v. 8, n. 2, p. 141-54, 1987,
com símbolos lógicos manuscritos em complementação nesta petição, cf. Boletim)
A lógica paraconsistente, na teoria e na prática repercute na
metodologia científica também do Direito Administrativo, ao oferecer estruturas lógicas
novas aos seus métodos, conforme ensina JOSÉ CRETELLA JÚNIOR, in verbis:
"Capítulo XV
METODOLOGIA DO DIREITO ADMINISTRATIVO
127. O problema do método
O direito administrativo utiliza-se de método próprio,
para a estrutura de seus institutos.
Método é o caminho que o espírito humano percorre para
atingir o objeto. É o conjunto de regras que disciplinam a razão,
orientando-a para o conhecimento da verdade.
O procedimento metódico, que se contrapõe ao casual, conduz
o sujeito cognoscente ao objetivo visado, evitando-se desse modo a tentativa
assistemática, o caminho inadequado, que acarreta inútil perda de tempo e afastamento
progressivo da verdade, podendo ser o método comparado a um mapa preciso que
indica a verdadeira rota, sem divagações, levando dentro de pouco à identificação dos
termos do binômio sujeito-objeto, ao contrário da indefinida informação oral, dada por
um leigo, que apenas por coincidência guiará o caminhante ao ponto exato que pretende
alcançar.
Cada ciência pesquisa as características de determinado tipo de
objeto (aspecto formal), havendo muitas ciências que consideram o mesmo objeto (aspecto
material), sendo o primeiro aspecto - o formal - que torna diferente uma ciência de
outra.
Cabe à metodologia investigar e descobrir qual dentre os
vários processos racionais é peculiar a uma dada ciência. Assim, Metodologia é
a ciência que descobre o método com que cada ciência deve trabalhar para atingir seu
objeto. É a ciência da seleção do método adequado.
Assim como nas ciências físico-naturais há um caminho que se adapta
aos objetos do mundo físico (objetos naturais), também nas ciências jurídicas e
sociais existem categorias especiais de métodos que se flexionam ao mundo cultural em que
outros objetos se movimentam. E, do mesmo modo que, na maioria das vezes, não é
indiferente a escolha de via terrestre, marítima ou aérea, para chegar a determinado
tempo, inacessível, a uma das vias indicadas, no mundo das ciências é preciso também
descobrir quais as rotas mais compatíveis para a apreensão dos diferentes objetos.
Que tipo de objeto é o direito? Que método ou caminho
deve ser empregado para captá-lo do mundo mais completo possível?
Tais indagações competem à filosofia do direito, que auxilia os
diversos ramos do direito, na perseguição exata e completa de seus respectivos objetos.
Depende de duas circunstâncias a eleição do método em
questão: do fim que se pretende alcançar e da natureza da disciplina a que
deve aplicar-se.
Teoricamente falando e levando-se em consideração os diferentes
momentos do trabalho científico, admitem os métodos, em geral, uma tríplice
classificação: a) métodos de pesquisa; b) métodos de
sistematização; c) métodos de exposição.
Os métodos de pesquisa dirigem-se aos objetos para depois
receber formalização em juízos certos ou prováveis.
Os métodos de sistematização e os de exposição
trabalham com os resultados alcançados pelos primeiros, contribuindo para divulgá-los.
Há muitas outras espécies de métodos, como os discursivos ou
de inferência mediata e os intuitivos ou de inferência imediata.
Consiste o método discursivo numa série de esforços
sucessivos em torno do objeto para envolvê-lo, mediante uma série de proposições que
se encadeiam, progressivamente.
Consiste o método intuitivo em operação integral, única e
indivisa do espírito, que se projeta sobre o objeto e o domina, abrangendo-o numa
panvisão, sem que nada - nenhuma proposição, nenhum juízo - se interponha entre o
sujeito cognoscente e o objeto cognoscível.
O método discursivo compreende não só a dedução, que parte
de uma verdade ou princípio geral e chega a uma verdade individual e limitada, havendo,
pois, uma espécie de descida entre um princípio e uma conclusão verdadeira, como
também a indução, que segue o caminho inverso, partindo do caso particular para
consubstanciar-se em um princípio geral. Divide-se a indução em aristotélica e baconiana.
Os métodos de inferência imediata estão reunidos sob o
título genérico de métodos intuitivos.
Intuição, em sentido lato, é a "visão direta do objeto
pelo sujeito", é o "contato integral e imediato dos dois termos do binômio
sujeito-objeto", a tal ponto que, nada se colocando de permeio entre ambos, é
possível a mais perfeita identificação de quem procura com o objetivo procurado.
A intuição pode ser sensível e espiritual,
compreendendo esta última, a intelectual, a emotiva e a volitiva.
Há ainda várias outras modalidades de intuições: a de Bergson, a de Husserl.
Por esta simples apresentação não é difícil concluir como é
complexo, em filosofia, o problema do método e da metodologia." (in CURSO DE
DIREITO ADMINISTRATIVO - DE ACORDO COM A CONSTITUIÇÃO VIGENTE, Forense, 1997, 15ª ed.,
p. 175/7)
Para concluir esta abordagem terminológica sobre o método e a
evolução científica, mister manter o espírito jurídico aberto para novas percepções
fenomenológicas, pois "O método é tão infinito quanto a própria ciência"
como ensina EUGEN EHRLICH (cf. FUNDAMENTOS DA SOCIOLOGIA DO DIREITO, Unb, 1986, p. 388,
trad. RENÉ ERNANI GERTZ), e "Talvez seria melhor limitarmo-nos a conceber esta
maneira particular do pensamento jurídico como um estilo deste pensamento, que constitui
uma individualidade cultural da caráter próprio. Este estilo foi se formando no curso de
séculos e foi acentuado, às vezes mais, às vezes menos. Com o termo "estilo"
já estaria dito que não se pode separar este caráter do conteúdo, do pensamento, que
é efetivamente a maneira na qual este pensamento é exercitado em nossa comunidade
cultural. Entra-se neste estilo como que crescendo para dentro dele e a formação
jurídica é um conhecido testemunho como sucede este crescer para dentro. Este estilo se
situaria numa íntima relação de troca com as correntes fundamentais políticas,
espirituais e científicas de cada época, incorporando e elaborando os momentos mais
fortes destas correntes fundamentais. Este estilo não seria, portanto, algo apriórico,
mas parte da cultura global de um contexto jurídico, assim como o direito mesmo também
é apenas parte desta cultura. Pode-se, portanto, aceitar sem mais que em outros contextos
jurídicos se formou um outro estilo de trabalho jurídico e de pensamento jurídico, sem
que, no entanto, se tenha que tentar relacionar os estilos ou harmonizá-los de alguma
maneira entre si. Tais tentativas também não se fariam em relação com a história de
povos individuais e seus contextos culturais.", como ensina JAN SCHAPP (cf. PROBLEMAS
FUNDAMENTAIS DA METODOLOGIA JURÍDICA, Sergio Antonio Fabris Editor, Porto Alegre, 1985,
trad. ERNILDO STEIN).
Em poucas e outras palavras, mister fugir do blábláblá.
Pergunta: Como fugir do blábláblá?
Resposta:
"Para que haja comunicação é necessário que o Outro fale e
reconheça o que eu falo. Nesse eixo já existe a assunção mínima de que há um campo
democrático e de respeito na argumentação sem o qual não existe comunicação. É por
isso que afirmo que é um tipo de racionalidade que demanda um outro tipo de binômio
cognitivo: sujeito/co-sujeito e não sujeito/objeto, como nas teorias solipsistas
modernas. É uma validade epistemológica intersubjetiva e não uma busca de objetividade
ingenuamente neutra, como nos propõe uma ciência cega.
Os cientistas estão imersos em uma comunidade comunicacional real, do
contrário não conseguem nem mesmo fazer a hipótese "acontecer". Se um grupo
de pessoas discute algo com a intenção de chagar a uma conclusão, quem roubar no jogo
destrói a argumentação. Não se trata de uma "adesão" volitiva irracional de
tipo popperiano, mas de uma adesão racional cognitiva: se roubarmos no jogo, acaba a
argumentação, e a cognição buscada se desfaz. Sem esse campo democrático de respeito,
toda fala é blábláblá... É a argumentação que deve ser o modelo transcendental
(sentido kantiano) para a fundação de uma ética atualmente (o que chamo de ética da
discussão), em um mundo pós-metafísico, sem Deus e cheio de almas mortais que se
inter-relacionam não mais dentro de esquemas culturais grupais fechados (que sustentavam
a ética solidária no passado), mas por meio de gigantescas redes tecnológicas e
comerciais impessoais. (Karl-Otto Apel, Folha de São Paulo, 26/09/1999, MAIS!, pg. 5-6,
por Luiz Felipe Pondé)
Aplicando os ensinamentos referidos ao caso desta actio popularis
em paralelo à medida cautelar referida por ANDRÉA MICHAEL no jornal Folha de São Paulo
de hoje supra citada, surge a seguinte fórmula jurídica paraconsistente, a ser
aprimorada no curso do processo:
A, B, C, D e E, são as seguintes pessoas, de fato e/ou de direito: A =
Cidadão; B = União Federal = C + D + E, sendo C = Poder Legislativo, D = Poder Executivo
e E = Poder Judiciário; L = Ministério Público Federal.
F1 e/ou F2 são respectivamente os ambientes operacionais (1 desta actio
popularis e 2 da medida cautelar), em instrumentalidade substancial = F1/2 =
operador epistêmico de omnisciência lógica e jurídica;
G = universo do discurso = Estado Democrático de Direito;
Hipótese: A resultante das forças - bio-psicológicas e/ou
ético-filosóficas - jurídicas do sistema !:-(+/-/*#@!;-) = Estado Democrático de
Direito
Tese: F1/2{[A !:-(+/-/*#@!;-) B !:-(+/-/*#@!;-) L !:-(+/-/*#@!;-)]} = G
Demostração paraconsistente: A Ù B Ù L ® ( ( A Ù
B Ù L ) Ù ( A Ú
B Ú L) Ù [A !:-(+/-/*#@!;-) B
!:-(+/-/*#@!;-) L !:-(+/-/*#@!;-)]
Demonstração paraconsistente epistêmica omnisciente: F1/2(A Ù B Ù L) ®
F1/2{( ( A Ù B Ù L )} Ù F1/2{( A Ú B Ú
L)}= F1/2{[A !:-(+/-/*#@!;-) B !:-(+/-/*#@!;-) L !:-(+/-/*#@!;-)]}
Da simbólica e paraconsistente supercompleta reflexão, requeiro o
regular andamento do feito popular com a concessão da tutela anteriormente pleiteada,
pois viver é fazer a energia no espaço valer o tempo da paraconsistência existencial
humana, de ser e dever ser, é a Arte de fazer o desconectado A ... B ... L
... de Ninguém em musical harmonia do BLA...BLA...BLA... de Todos(as).
São Paulo, 31 de agosto de 2000.
Carlos Perin Filho
OAB-SP 109.649
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